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Da liderança de números à liderança de pessoas:

curar a cegueira do tempo imediato

 

 

Sempre nos disseram que, como líderes temos de ir à luta e que líder que é líder tem de se superar continuamente, ter sucesso, levar as equipas a alcançar objetivos sempre maiores, a aumentar a performance, a aguentar, mesmo que cansadas.

 

Na gestão dos resultados está também a capacidade de gerir a agenda, de aprender a vencer o cansaço e a esquecer a ansiedade. Os líderes até têm uma escola ondem aprendem a “comer a correr!", e, melhor ainda, a “saltar refeições!”. É a mesma escola onde aprendem a seguir em frente, mesmo quando não aguentam mais, e através destes comportamentos, aprendem a gerir pelo exemplo, esperando que os outros façam o mesmo e, penalizando-os se não o fazem.

 

Sei bem do que falo, pois, ao longo de 22 anos (1991 a 2013) eu própria frequentei esta “escola”. E foram também esses ensinamentos que me levaram a desconectar e a desidentificar com o modelo empresarial vigente, que  acabei por abandonar para criar um projeto onde pudesse ir além daquilo a que chamo “A Cegueira do Tempo Imediato”.

 

Naturalmente, aquilo que interessa às organizações é a sustentabilidade financeira. Mas esta, por si só, é altamente redutora.  As lideranças veem-se confrontadas com a necessidade das suas equipas serem  cada vez mais produtivas e rentáveis mas isso não se consegue sem criatividade e inovação constantes, garantindo que as marcas têm a notoriedade necessária para serem escolhidas em primeiro lugar pelos consumidores-clientes. Nesta sanduíche produtividade-inovação, as pessoas, sufocadas pela pressão da tarefa, deixam de lado a sua satisfação pessoal, o seu bem-estar.

 

O resultado é visível: assistimos hoje nas empresas à existência de batalhões de funcionários obcecados com os resultados imediatos. Resultados que são traduzidos em objetivos de curto prazo onde os colaboradores perdem a visão estrutural do objetivo, da missão e até do significado e da importância do seu trabalho quer para o todo organizacional quer para o mercado. A longo prazo, esta dinâmica destrói o Sentido da Organização levando à perda de sustentabilidade e, consequentemente, à destruição de capital.

 

A insatisfação, a desidentificação com a missão, o stresse exagerado, a angústia e o medo de não conseguir alcançar os objetivos, leva as pessoas a adoecer. Física e emocionalmente. Nunca como agora vimos tantos casos de burnout nas organizações, de baixas médicas por esgotamento e depressão e de cancro, entre colaboradores, lideranças, chefias, gestores. E não é apenas a comunicação social a apontar este drama humano. Na minha atividade como coach de liderança e de equipas, posso afirmá-lo em primeira mão! Estamos a esquecer-nos de que, sem pessoas saudáveis não há empresas saudáveis! 

 

Há organizações muito lucrativas (consideremos o exemplo da Google) que têm conseguido agir de forma a não apenas obter o retorno do investimento dos seus acionistas, mas igualmente a obter a satisfação dos seus colaboradores e, com esta, a satisfação de fornecedores e clientes. O curso de integração de novos colaboradores na Google, por exemplo, chama-se “Procure dentro de si”. Neste curso, mais do que competências técnicas as pessoas aprendem a reconhecer as suas fragilidades e como crescer com elas, a reforçar as suas mais-valias, a comunicar de forma empática, a gerar relacionamentos positivos, a ter uma preocupação genuína com o seu bem-estar pessoal (o cuidar de si) para conseguirem cuidar também dos outros.

 

As empresas devem começar a fazer um caminho semelhante ao das suas pessoas: olhar para dentro de si em primeiro lugar (autoconhecimento), como base para melhorar a forma como agem com os colaboradores, como se relacionam com o mercado, como realizam o seu propósito e alcançam objetivos (significantes).

 

Enquanto continuarem focadas no número, as organizações perderão o fundamental: a capacidade de se autoanalisarem, de perceberem para onde estão a caminhar e de onde esse caminho, a longo prazo, as irá levar. Serão empresas sem alma, vivendo a cegueira do lucro imediato, sem coerência interior e, consequentemente, perdendo coerência junto do mercado.

 

Estas empresas facilmente serão ultrapassadas por outras que não tenham medo de perder algum tempo a pensar-se, a ser mais integrativas, coerentes, éticas, emocionalmente saudáveis, e, no fundo, sustentáveis.

 

Teresa Marta

Fundadora da Academia da Coragem®.

Team & Leadership Coach. Formadora do CECOA.

 

 





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