Como Cuidar do Envelhecimento Europeu? Os Seminários VET CARE
Em dezembro de 2024, quatro países europeus iniciaram o seu projeto sobre desenvolvimento de conteúdos formativos para a capacitação de cuidadores e um modelo-piloto de bolsa que permita agregar stakeholders do mercado de trabalho, provedores do EFP (Ensino e Formação Profissional) e cuidadores, que integram este setor da área da saúde nos diferentes países envolvidos. O projeto VET CARE[1] (Dezembro 2024-Novembro 2025), cofinanciado pelo programa Erasmus+, traz a experiência dos países do Sul da Europa (Portugal, Espanha, Grécia e Itália), contribuindo para a necessidade de requalificação e inclusão dos prestadores de cuidados, nomeadamente mulheres migrantes, a principal força de trabalho no sector dos cuidados na Europa, através do desenvolvimento de um curso de e-learning, em cinco línguas europeias, e de um modelo de bolsa, onde os prestadores de cuidados possam encontrar a sua resposta no mercado de trabalho e soluções de formação, seguindo as políticas da UE sobre inclusão e integração da população vulnerável. Quatro organizações - CECOA, Fundación Ronsel, FORMA.Azione e IDEC -, juntaram-se para conceber e alcançar resultados que possam ser aplicáveis noutros contextos e úteis numa Europa envelhecida, equilibrada pelo fluxo de migrantes que necessitam de formação localizada.
Depois de ter pesquisado sobre programas de formação formais e não formais em doze países europeus no sector dos cuidados continuados (LTC), aplicando ferramentas de diagnóstico para compreender as necessidades de formação dos trabalhadores migrantes, desenvolvido numa lógica de colaboração, incluindo os grupos-alvo do projeto, o VET CARE chegou ao público através dos seus primeiros Seminários VET CARE, que decorreram nos quatro países.
A partir da recolha e análise dos programas de formação, aplicámos ferramentas colaborativas como Grupos Focais, o modelo lógico da Teoria da Mudança e desenvolvemos um questionário, nos quatro países, para compreender as necessidades de formação dos cuidadores migrantes a nível europeu junto de ONG’s locais, que trabalham com migrantes, centros de emprego e outros organismos públicos relacionados com a área, incluindo lares. Os Grupos Focais permitiram compreender o que é necessário em cada país, informação que iremos usar no desenvolvimento do conteúdo do curso de e-learning e do Toolkit de formação VET CARE. O questionário permitiu-nos chegar às organizações e aos prestadores de cuidados que serão os nossos pares no processo de desenvolvimento do material de formação, durante o teste piloto que será realizado no segundo trimestre de 2025. O modelo lógico da Teoria da Mudança foi efetuado durante os seminários, de modo a introduzir uma abordagem colaborativa sustentada pela filosofia da revisão por pares, para refletir sobre a mudança e a sua necessidade.
No âmbito do VET CARE, planeámos três seminários nacionais e um evento final em Portugal, Espanha, Itália e Grécia, agregando todas as actividade do projeto. Os nossos primeiros seminários VET CARE decorreram entre abril e junho, reunindo noventa e um participantes entre os stakeholders e os grupos-alvo do projeto VET CARE.
Os Seminários VET CARE: Lisboa, Perugia, Corunha e Piraeus
Em Portugal, o CECOA, coordenador do projeto VET CARE, coorganizou o primeiro seminário VET CARE em conjunto com um parceiro estratégico português, o Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA), em Lisboa, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, subordinado ao tema “Programas de formação para cuidadores: perspetivas comparativas”. No dia 17 de abril, a equipa do CECOA apresentou a pesquisa realizada sobre boas práticas relativas a programas formais e não formais de formação para cuidadores na Europa, falou sobre os desafios e as mudanças necessárias para alcançar o que os cuidadores procuram e o mercado de trabalho pede, dando voz aos modelos alemão e suíço em comparação com o português[2]. A boa prática portuguesa identificada foi convidada a estar connosco, apresentando o projeto “Corações que Cuidam” [3] desenvolvido pela Academia de Formação do JRS (Serviço Jesuíta aos Refugiados) Portugal. De seguida, realizámos um exercício colaborativo baseado no modelo da teoria da mudança, questionando a audiência sobre “benefícios”, “riscos”, “constrangimentos”, “com quem tenho de trabalhar” e “coisas que preciso de mudar”, na perspetiva de diferentes sujeitos: um prestador de cuidados, um prestador de cuidados migrante, o mercado de trabalho, um prestador de EFP e uma entidade que procura prestadores de cuidados. Após este exercício colaborativo, ouvimos o nosso parceiro estratégico, o CICS.NOVA, falar sobre a crise global no sector dos cuidados, com enfoque em Portugal, sublinhando que os cuidadores são categorizados no sector dos serviços domésticos, não sendo reconhecidos no sector dos cuidados. Para finalizar, ouvimos a experiência portuguesa de formação de população vulnerável pela SCML, uma entidade jurídica privada reconhecida e consolidada que trabalha no sector social, sendo o seu Provedor nomeado pelo Primeiro-Ministro. A SCML trouxe a sua experiência sobre redes de apoio aos prestadores de cuidados, “para cuidar do cuidador”.
CECOA, 1º Seminário VET CARE - Programa e exercício colaborativo, 17 de abril, Lisboa
FORMA.Azione, uma organização italiana de EFP e educação de adultos com experiência em projetos desde 1997, organizou o primeiro seminário VET CARE em Perugia, Itália, denominado “Workshop: Competências transversais para o trabalho dos cuidadores”, utilizando os ‘cartões de competência para aconselhamento em matéria de imigração’ da Fundação Bertelsmann para facilitar o processo de reconhecimento das qualificações e da experiência dos migrantes recém-chegados, com o objetivo de promover a inclusão dos migrantes no mercado de trabalho[4].
Num workshop colaborativo, o público coparticipou na exploração dos 57 cartões e sua classificação em três categorias: competências sociais, pessoais e profissionais e interesses (e.g. família, música, passatempos). O público foi então convidado a participar numa experiência, através da utilização dos cartões, seguindo as instruções de seleção de 2 cartões, definindo quem seria o utilizador e quem seria o profissional que realizaria a orientação, qual o objetivo da autoavaliação na utilização das competências apresentadas em cada cartão, dando enfoque à importância da narrativa pessoal centrada na experiência como uma mais-valia para compreender os pontos fortes em relação a competências específicas ou a necessidade de melhoria. A experiência começou com a escolha dos cartões e a realização de uma entrevista dois a dois com a duração de 10 minutos, trocando depois de lugar, em que o entrevistado passou a entrevistador, tornando-se assim o profissional que faz a orientação. O seminário terminou com a apresentação das experiências por parte do público, numa lógica baseada no modelo da teoria da mudança.
FORMA.Azione, 1º Seminário VET CARE - Programa e role play, 13 de maio, Perugia
Em Espanha, a Fundación Ronsel, uma organização de solidariedade social a trabalhar desde 2000 na área da educação com foco na empregabilidade e integração sócio-laboral, organizou o primeiro seminário VET CARE no dia 4 de junho, subordinado ao tema “Profissionalização dos cuidados: direitos e oportunidades”, através da organização de duas mesas redondas, intituladas “A importância da formação em cuidados” e “Direitos e saúde dos trabalhadores domésticos”. Em ambas estiveram presentes intervenientes e profissionais do sector dos cuidados e da área da migração. Ao apresentar o projeto, a equipa da Fundación Ronsel destacou as conclusões a que os países VET CARE chegaram após a fase de pesquisa: porque é que os serviços de cuidados continuados (LCT) são prestados essencialmente por mulheres migrantes? Porquê e como estão a trabalhar? O sector dos cuidados continuados é assegurado maioritariamente por mulheres migrantes, que trabalham como empregadas domésticas, cuidando de pessoas doentes, dependentes e fazendo companhia. Trabalhar como empregada doméstica, na área dos serviços domésticos, está relacionado com a falta de recursos, limitações em relação à língua nacional, irregularidades administrativas e procedimentos legais que colocam diferentes desafios aos migrantes recém-chegados, dificuldades socioeconómicas devido à violência estrutural, como a cultura, o acesso à habitação, o racismo, a xenofobia, a violência de género, entre outros. Na apresentação do projeto VET CARE, tal como nos outros países do projeto, foi sublinhada a relação entre o número de cuidadores e categoria em que estão integrados: trabalho doméstico. Segundo os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), dos quase 76 milhões de pessoas que efetuam trabalho doméstico no mundo, 76,2% são mulheres. Em Espanha, o foco do seminário VET CARE foi em torno do debate sobre que tipo de formação é necessária e que direitos têm os trabalhadores do sector dos cuidados. A Fundación Ronsel decidiu aplicar a teoria da mudança anteriormente, para que esta ferramenta possa ser aplicada na melhoria do sector.
Fundación Ronsel, 1º Seminário VET CARE - Programa e mesas redondas, 4 de junho, Corunha
Na Grécia, o IDEC, uma empresa de consultoria na área da formação a trabalhar em Piraeus desde 1989, organizou o primeiro Seminário VET CARE, a 26 de junho, com o tema “Educação e integração de imigrantes e migrantes: teoria da mudança, desenvolvimento de capacidades e novas tecnologias”, no formato de um workshop interativo. O público foi desafiado a aplicar o modelo lógico da teoria da mudança em 10 passos, explorando a metodologia, para desenvolver estratégias de integração de imigrantes, passando depois para o desenvolvimento de capacidades através da educação e do EFP para trabalhadores migrantes e, finalmente, para a utilização de novas tecnologias na formação de prestadores de cuidados. Inicialmente, a equipa grega do VET CARE apresentou o projeto de forma geral, tal como foi feito nos outros países VET CARE, e depois abordou as diferenças entre os prestadores de cuidados formais e informais, à semelhança dos outros três países VET CARE. No que diz respeito à situação dos prestadores de cuidados, foi salientado que, na Grécia, o sector dos cuidados ao domicílio depende particularmente dos migrantes que chegam ao país à procura deste tipo de emprego. Foi partilhado com o público que a maioria dos cuidadores são mulheres, seguindo a tendência europeia, tendo contactos diretos com redes de expatriados e pares ou agências de recrutamento especializadas na prestação de serviços de cuidados. Foram depois apresentadas as boas práticas de formação de prestadores de cuidados no país. O encerramento foi feito com referência à plataforma de e-learning VET CARE, apelando à utilização de novas tecnologias no sector dos cuidados.
IDEC, 1º Seminário VET CARE - Programa e workshop/teoria da mudança, 26 de Junho, Piraeus
Serão organizados três Seminários VET CARE, até ao final do projeto, nos quatro países, documentando o progresso do projeto. Relativamente ao primeiro, em Portugal, Espanha, Itália e Grécia, foram utilizadas diferentes estratégias para organizar os seminários, em função da realidade nacional e levando em conta as diferentes políticas públicas e stakeholders envolvidos. A experiência dos primeiros seminários VET CARE pode ser reutilizada na organização deste tipo de atividades: apresentação de boas práticas de formação formal e não formal no EFP e utilização de ferramentas como os Grupos Focais e a Teoria da Mudança, que podem contribuir para um diagnóstico aprofundado da situação, tendo em conta a falta de dados sobre os prestadores de cuidados na Europa. O próximo seminário VET CARE terá lugar perto de si, entre fevereiro e abril de 2025, e será dedicado aos modelos de bolsas de emprego para os prestadores de cuidados, respondendo também às necessidades de formação e ao mercado de trabalho. Esteja atento. Esteja on @
Consórcio VET CARE
Lisboa, Corunha, Perugia e Pireaus
Financiado pela União Europeia. Os pontos de vista e as opiniões expressas são as do(s) autor(es) e não refletem necessariamente a posição da União Europeia ou da Agência Nacional. Nem a União Europeia nem a Agência Nacional podem ser tidas como responsáveis por essas opiniões.
[1] Veja em https://erasmus-plus.ec.europa.eu/projects/search/details/2023-1-PT01-KA220-VET-000156915.
[2] Leia o relatório sobre as 12 boas práticas na Europa realizado pelo VET CARE em https://www.cecoa.pt/custompage/projects?tproj=internacional&aid=150.
[3] Veja o projeto em https://www.youtube.com/watch?v=4iWP4wWkovE
[4] Para aceder aos cartões, veja https://www.bertelsmann-stiftung.de/fileadmin/files/Projekte/Aufstieg_durch_Kompetenzen/Kompetenzkarten/Englisch/Bastelbogen_EN.pdf