Competências Digitais no Ensino e Formação Profissional:
As vozes dos formadores e tutores portugueses do século XXI
No início de junho de 2021, o CECOA iniciou mais uma parceria no âmbito da sua estratégia de intervenção internacional na área da Educação e Formação Profissional (EFP), aliando-se ao projeto DiGiGo - Apprenticeships in the Digital Era (2021-2023) coordenado por França (CDE Petra Patrimonia), trabalhando, lado a lado, com a República da Macedónia do Norte (SABA), os Países Baixos (Stichting Incubator), a Grécia (IDEC e IIEK DELTA) e Malta (Eurodimensions). O DiGiGo é financiado pelo Erasmus + ao longo de 24 meses, terminando em maio de 2023.
O DiGiGo pretende promover a digitalização das aprendizagens em contexto de trabalho com enfoque nos formandos/estagiários, formadores e tutores nas empresas, contribuindo para a aquisição de competências digitais adequadas às exigências do mercado de trabalho nacional e internacional.
A digitalização no EFP em Portugal – Estado de Arte
As competências digitais são introduzidas pelo Ministério da Educação no EFP português na década de 1980 através do projeto Minerva (1985-1994), com o objetivo de desenvolver a área das TIC (Tecnologias da informação e comunicação). O Minerva é seguido de diversos projetos e programas, bem como iniciativas com o propósito de desenvolver as competências digitais em Portugal (conforme a tabela abaixo).
Tabela 1: Projetos, programas e iniciativas na área das TIC 1985-2011 (Fonte: Pereira & Pereira, 2011, p. 160)[i]
Em 2017, o programa transversal Iniciativa Nacional Competências Digitais e.2030 (INCoDe.2030) foi lançado pelo Governo português visando “dotar a população portuguesa das competências adequadas a um aproveitamento efetivo das tecnologias digitais, com vista a uma sociedade mais equitativa, competitiva e sustentável”[ii]. O INCoDe.2030 tem como objetivo incrementar três grandes áreas no domínio das TIC:
Figura 1: INCoDe.2030 – desafios (Fonte: FCT[iii]
Em 2020, o Plano de Ação para a Transição Digital de Portugal foi aprovado pelo Governo[iv], desenvolvido pelo Ministério da Economia e Transição Digital, baseado em três pilares de atuação: (1) Capacitação e inclusão digital das pessoas; (2) Transformação digital do tecido empresarial; e (3) Digitalização do Estado.
A digitalização em Portugal – as vozes dos formadores e tutores portugueses do século XXI
No âmbito do projeto DiGiGo, o CECOA realizou em setembro e outubro de 2021 o Questionário DiGiGo sobre Competências Digitais dirigido aos formadores e tutores portugueses em simultâneo com os outros países europeus que fazem parte do DiGiGo, com o objetivo de, por um lado, analisar as lacunas na área das competências digitais e, por outro, identificar as competências digitais mais valorizadas pelos formadores e tutores do EFP. Este questionário foi desenvolvido de forma a recolher informação qualitativa e quantitativa sobre esta temática. O questionário foi respondido por 74 participantes, sendo a maioria do sexo feminino, com habilitações ao nível da licenciatura, idades compreendidas entre os 41 e os 50 anos, trabalhadores independentes em empresas/entidades privadas[v].
Segundo os formadores e tutores portugueses, competência digital é a capacidade de saber utilizar as tecnologias digitais, ter informação e aptidões com base em plataformas e computadores seguros, utilizando recursos e conhecimento previamente adquirido. Os formadores e tutores portugueses consideram que a comunicação é a aptidão mais importante para desenvolver as competências digitais dos formandos/alunos/staff (em baixo, o conjunto de palavras ilustra a frequências das palavras utilizadas para definir o que é a competência digital).
Figura 2: Conjunto de palavras/análise da frequência de palavras utilizadas para definir competência digital
Na sequência do questionário, bem como da identificação das cinco boas práticas na área da competência digital em Portugal[vi], o CECOA organizou também um Grupo Focal, que ocorreu em simultâneo nos outros países europeus do projeto, com 12 participantes[vii] para debater o estado da educação digital e das competências no EFP e seu impacto nos formandos, formadores e tutores em Portugal, bem como o conhecimento sobre as boas práticas identificadas pelo CECOA. As principais conclusões a que o grupo chegou foram as seguintes:
Figura 3: Principais conclusões do Grupo Focal organizado em Portugal/CECOA
O DiGiGo irá continuar até 2023 estando previsto alcançar os seguintes produtos/resultados:
- Programa de formação em acesso livre e, em regime de e-learning, sobre desenvolvimento de competências digitais para formandos/estagiários de EFP destinado a formadores e tutores em contexto empresarial
- Metodologia aplicada à digitalização das aprendizagens baseada no Quadro Europeu de Referência para a Competência Digital DigiComp 2.0, com enfoque na aquisição de competências digitais de formandos/estagiários no decorrer dos estágios/aprendizagens para formadores de EFP e formadores em contexto empresarial
- E-book com inclusão de histórias de sucesso no âmbito do projeto DIGIGO, com testemunhos de formadores, tutores e formandos/aprendizes
- Publicação de vídeos com as histórias de sucesso do projeto DIGIGO
DIGIVET (2019-2022) - Digital Media para a Aprendizagem em Contexto de Trabalho
Digitalização das aprendizagens em contexto de trabalho, reforço das competências em media digital de formadores/coaches/tutores de empresas, bem como estímulo à utilização de meios digitais por empresas (designadamente do vídeo) enquanto ferramenta de desenvolvimento é também o foco do projeto Erasmus + “DIGIVET - Digital Media for VET in SMEs”, um projeto liderado pela Universidade de Gloucestershire no Reino Unido que conta com parceiros de Portugal (CECOA) bem como da Alemanha, Áustria, Eslovénia, Roménia e Turquia.
Fruto deste projeto, teremos, já no início de 2022, disponíveis vídeos pedagógicos de empresas portuguesas produzidos em parceria com o CECOA, e que são exemplos de uma boa utilização do recurso “vídeo” enquanto meio digital de estímulo e apoio à aprendizagem no seio das empresas. Trata-se de pequenos vídeos pedagógicos/”instrucionais” que demonstram/explicam rotinas ou processos de trabalho, de uma forma clara, dinâmica, visualmente atrativa e criativa, permitindo, desta forma, por exemplo, uma mais rápida e fácil integração e formação de novos colaboradores ou a explicação de um novo procedimento que a empresa queira implementar junto de atuais colaboradores. O recurso vídeo tem a enorme vantagem de ficar disponível para uso e consulta, sempre e quando necessário, respeitando o ritmo de aprendizagem e as necessidades individuais de cada pessoa, entendendo-se, pois, como um excelente exemplo e aliado de uma aprendizagem individual, pessoal, a distância e assíncrona.
Os recursos vídeo produzidos em Portugal bem como os produzidos nos outros países da parceria, a par com alguns outros recursos concebidos no âmbito do projeto DIGIVET com o objetivo de ajudar formadores/tutores/coaches nas empresas a desenvolver/conceber recursos vídeos estão ou ficarão disponíveis no seguinte LINK e no canal youtube do projeto.
Para mais informações:
UIN - Unidade Inovação & Negócios
DiGiGo - Apprenticeships in the digital era
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[i] In https://www.incode2030.gov.pt/sites/default/files/portugal_incode_en_web_single_0.pdf , p. 4. Consultar também https://www.incode2030.gov.pt/en/documents-publications
[ii] In https://www.incode2030.gov.pt/sites/default/files/qdrcd_set2019.pdf, p. 7.
[iii] In https://www.fct.pt/dsi/portugalincode2030/index.phtml.pt
[iv] In https://portugaldigital.gov.pt/wp-content/uploads/2020/04/plano-acao-para-transicao-digital-20200420.pdf. Consultar também https://dre.pt/dre/detalhe/resolucao-conselho-ministros/31-2020-132133789 e https://www.portugal.gov.pt/download-ficheiros/ficheiro.aspx?v=%3d%3dBAAAAB%2bLCAAAAAAABACzNDGyBAAC%2bXA9BAAAAA%3d%3d
[v] O questionário DiGiGo é composto por 5 seções, começando pela apresentação do projeto, o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), informações pessoais, perguntas abertas e fechadas sobre competências digitais e conhecimento sobre a matéria.
[vi] As cinco boas práticas em Portugal identificadas pelo CECOA foram as seguintes: Projeto Literacia Digital de Adultos (LIDIA) no domínio das boas práticas (método / ferramenta) relativas à formação de formadores ou aos processos educativos oferecidos a formadores no domínio das competências digitais; Accenture +digiaula no domínio das boas práticas em tecnologias / técnicas para o desenvolvimento das competências digitais de formandos/aprendizes; Plataforma NAU no domínio das boas práticas em relação ao processo / política de uma instituição em relação à implementação de formação para o desenvolvimento de competências digitais; “O nosso Chão” no domínio das boas práticas em atividades / exercícios práticos que complementam o processo de formação de competências digitais; CoderDojo/TAGUSVALLEY como um bom exemplo de conteúdo de formação de competências digitais
[vii] Participantes do GF organizado pelo CECOA: Sandro Costa, Learning Designer, da Plataforma NAU / FCCN; Carolina Barreiros, Coordenadora de Projeto, Rés do Chão; Sandra Serafim Tralhão, Formadora, CECOA; Nuno Monteiro, Patner, Lxgest; Lígia Veloso, Técnica de formação - Coordenadora de cursos de longa duração, CECOA; Elisabete Jesus, formadora, independente; Agripina Helena Patão Costa, formadora, independente; Patrícia Espírito Santo, Formadora, Cecoa; Homero Cardoso, gestor de projeto, TAGUSVALLEY; Vera Carvalho, formadora, CECOA Coimbra; João Mouro, professor/formador, FCT/UNL e Rui Martins Gaspar, formador e e consultor, RGConsulting,